O celular desperta 5:50 da manha, ela pega o celular e sem
nem pensar decide pela função "soneca". Ela se encolhe na cama se
aninhando na coberta, será que está frio hoje lá fora, pensa ela. O tempo
impiedoso com ela passa tão rápido que logo o celular desperta novamente. Um
suspiro inicia a rotina matinal, ela se espreguiça senta na cama e sorri despretensiosamente
em direção ao armário pensa: hoje o dia será bom! Agora sentada de perna de índio
olha pra imensidão de roupas que compõem o seu armário, preciso tirar um tempo
para organizar isso, ela se promete achar tempo para isso ainda esta semana. Mais
alguns minutos de hesitação e ela decide pela calça largada em cima do puff,
uma blusinha de manga comprida e o casaquinho de lã que tem cara de casaco de vó,
mas e tão quentinho que ela nem se importa com o fato dele destoar com todas as
outras peças. Levanta, abre a janela para ter certeza de que a roupa está
adequada ao clima, um vento gelado entra no quarto, o dia está terrivelmente
cinza e nublado, mas o coração dela está convicto que logo mais aquele solzinho
que ela tanto gosta vai aparecer. Calça os pés com a sapatilha que estava
jogada no canto do quarto, rapidamente se olha no espelho, sem dar atenção a
nada quase que como uma reflexo involuntário da sua tímida vaidade. Entra no
banheiro, prende os cabelos, depois a franja, pega o sabão, abre a torneira-
Nossa como a água ta fria - lava o rosto bem rápido como se isso fosse diminuir
a frieza da água. Ela se olha agora prestando atenção na pessoa refletida no
espelho olhos inchados, olheiras revelam que a vida dela anda corrida, pele
branca, nariz vermelho de frio, boca levemente rosada ela sorri ao olhar para aquela
imagem tão familiar, buscando na imagem refletida algum traço despretensioso de
beleza. Solta a franja, depois os cabelos, vasculha a gaveta em busca da escova
de cabelo. Novamente ela encara o rosto do espelho, agora ela observa os
cabelos e conclui realmente este corte de cabelo lhe caiu bem, ela estava
realmente satisfeita o sorriso que ela tinha nos lábios revelava bem isso. Pausadamente
ela começa pentear os cabelos quando então, repara em um fio branco, depois
outro, logo outro... Ela para e suspira. Já não se trata de mais um fio de
cabelo branco, agora são alguns fios nada alarmante, nada que necessite de
medidas urgentes, mas o suficiente para ela entender que os anos passaram, e
que foi tudo tão rápido. Olhando aquela imagem refletida ela busca algo que a
faça lembrar da menina que vivia de joelhos ralados e de rabo de cavalo, ela não
a vê, mas de alguma forma ela sabe que a menina ainda está ai escondida em
algum canto, talvez nos olhos. É os olhos ainda são os mesmos, a mesma cor a
velha mistura de castanho e verde musgo igualsinho aos olhos de sua mãe, talvez
a menina dos joelhos ralados more nesses olhos, ela suspira de saudades. A
menina cresceu e no lugar dos joelhos ralados salto alto, o rabo de cavalo da
lugar aos cabelos soltos, os lápis de cor deram lugar a lápis de olhos, batom,
blush... Ela cresceu, e como cresceu! A menina de rabo de cavalo contrariando a
sua própria vontade se viu obrigada a dar lugar aquela mulher alta, esguia e de
olhos grandes. O coração dela agora se aperta, de saudades dos pique esconde,
das partidas de taco, de descer morros com caixa de papelão, de brincar no colo
do seu avô... Agora e a vez dessa mulher, o que será que Deus tem reservado
para ela, quais sonhos, quais aventuras lhe aguardam? O barulho da sua mãe
abrindo a porta da sala interrompe os seus pensamentos, e a faz pensar que
provavelmente ela já esteja atrasada pro serviço, se apressa em escovar os
dentes, desce as escadas, procura as chaves na bolsa, coloca os fones no ouvido
e tranca a porta de casa. Sai apressada deixando para traz a menina dos joelhos
ralados e rabo de cavalo, ah que saudades dela...
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