Ela era tão pequena, bochechuda estava de “maria chiquinha”
na cabeça quando eu a conheci nem andava ainda sempre que a olhava eu me
lembrava de um desenho, era igualzinha Boo do Monstros AS. Eu a achava a menina
mais linda do mundo, ela parecia não gostar muito do meu colo, se retorcia
muito e logo pedia o chão, saia engatinhando atrás do cachorro e ali ficava
entretida passando a mão no pelo puxando-lhe as orelhas. O velho cão parecia
entender que para aquela menina ele era um mundo desconhecido, extremamente
interessante e então nem dava bola, as vezes uns resmungos confirmavam minha
desconfiança de que a pequenina não sabia a força que tinha. Ela foi crescendo,
nossa cumplicidade também agora mal podia me ver já abria os braços e gritava “ine”
e se agarrava no meu colo, parecia que meus braços foram feitos especialmente
para ela de tão confortável que ela se sentia ali. O tempo foi passando e alguns
passinhos começaram a despontar ainda cambaleantes escorados na parede, frágeis
tentativas que logo acabavam com os joelhinhos nervosos no chão e um beicinho.
Ela começava a querer crescer, e meu colo agora era substituído pelas minhas
mãos que a segurava em quanto ela ensaiava a sua mais nova peripécia, andar.
Ainda lembro o dia em que eu estava sentada na sala observando aquela mini
desbravadora de longe no exato momento em que ela decidida soltou a parede em
direção a cadeira que estava a uns dois metros dali. Sucesso!!! Quatro
passinhos, sozinha, sem cair quando olhei a cena não resisti corri na sua
direção peguei-a no colo eu vibrava de felicidade lembro de dizer “-Conseguiu,
conseguiu você andou sozinha!”, lembro dela me olhar confusa ensaiar uma cara
de choro provavelmente assustada com o tamanho do estardalhaço que eu fiz. Quando
vi aqueles olhinhos assustados tratei logo de amansar a voz, fazer cosseguinhas e lhe dar muitos beijinhos, isto sempre a divertia, na hora ela trocou
choro pela sua gargalhada gostosa. Eu mal sabia o que me esperava, acabaram-se
as sonecas no sofá depois do mamá, acabaram-se os colinhos para niná-la e
começa a maratona. Crianças quando aprendem a andar descobrem um outro mundo,
ganham um outro nível de curiosidade.Elas adquirem pressa, pressa de andar e de
crescer também. Agora ela chegava em casa impondo presença gritando “line, line”
“kadu, kadu” a euforia era tanta que ela
não sabia se corria primeiro para os meus braços ou se ia direto no velho cão,
todas as vezes eu ficava na expectativa e meu coração vibrava em secreto quando
eu era escolhida primeiro. Agora ela queria ver tudo pegar tudo, ir a todos os
lugares da casa, várias vezes incansavelmente. Ela amava meu quarto, chegava
serelepe, abria o armário pegava todos os meus perfumes e ia espirrando nela um
a um quando se cansava finalizava com um gloss labial, era o comecinho de uma
vaidade era a fase das princesas. Ela amava vestidos, sandálias, bonecas e
perfumes de todos os cheiros e preferencialmente ao mesmo tempo. Não demorou
para que aprendesse o meu nome, que começasse a querer balbuciar frases inteiras, eu achava aquilo
muito divertido, ela se irritava quando eu não a entendia. Quando eu pisquei os
olhos estava perdendo horas sentada ao lado dela em quanto ela folheando um
livrinho fino com a história da chapeusinho vermelho, contava para mim a sua
versão da história. Era uma mistura das histórias que eu lia para ela e do que
ela via nas figuras do livro. Eu me encantava, achava lindo ver a imaginação
dela florescer, cavalos rosas, Barbie, lobos todos juntos em um castelo fugindo
do ursinho do mau, era fantástico. Começou a era das travessuras, eu já a via
bem menos andava muito sem tempo, mas quando ia vê-la a mãe sempre tinha uma
historia para contar de como ela havia alagado o banheiro ou de como tinha
derrubado toda a farinha do pote em si mesma. Eu mesma presenciei poucos
momentos de travessuras, mas os que eu pude ver sempre me deixavam consternada,não
sabia se ria, ou se repreendia no fim eu que sou declaradamente boba acabava
caindo na risada sob os olhos repreensivos da mãe da pequena sobre mim. Eu me
mudei, comecei a estudar fora, trabalhar e ela não quis saber de me esperar
simplesmente cresceu. Agora nos víamos menos, festas da escolinha, finais de
semana, aniversários. Sempre o mesmo carinho, a mesma cumplicidade, o mesmo
chamego olhares bem familiares que embora distantes nunca foram estranhos uma
para o outro. Esta semana caminhava desapercebida na rua quando uma pessoa ao
passar por mim em um carro grita “Ei tranqueirinha” logo reconheci o pai que me acenava, mesmo
atrasada fui ao encontro dele, um longo abraço, justifiquei minha falta de
tempo culpando o trabalho e a faculdade e ele riu dizendo: Olha quase apanhei
agora! Ela não gostou de eu ter te chamado de “tranqueirinha”, disse que eu não
podia falar assim da “tia dela”. Olhei no banco de traz e lá estava ela, escondida
pelo vidro escurecido, ela saltou da cadeirinha e correu para me abraçar, uau
quanta saudade tentei, em vão pegá-la no colo, mas ela já estava bem mais
pesada do que eu me recordava. Ficamos ali abraçadas um bom tempo, ela está
quase alcançado a minha cintura, como ela cresceu rápido pensei... Perguntei
como ia a escola, a mãe contou que agora ela estava aprendendo espanhol nem hesitei
ao perguntar Hola! Que tal? Fui surpreendia com um “Mui bien , gracias!”
paralisei por alguns segundos sorri,
abracei ela de novo agora mais apertado ela estava linda, tão esperta e eu atrasada
meus olhos marejaram ensaiando uma lágrima de saudade e orgulho. Mais um
abraço, promessa de voltar para uma visita mais longa e ela saiu saltitante, me
despedi dos pais, virei de costas e uma lagrima rolou do canto do olho. Minha
pequena cresceu e fala espanhol, como o tempo é impiedoso.
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